Os Limites do Contrato. O engajamento de trabalhadores na periferia do capitalismo (séculos XIX-XX)
Los límites del contrato: Trabajo por contrato en la periferia del capitalismo (siglos XIX-XX)
The Limits of the Contract: Indentured labor on the Periphery of Capitalism (19th-20th centuries)
DOI:
https://doi.org/10.48038/revlatt.n3.48Palabras clave:
trabajo por contrato, liberalismo, trabajo colonial racializado, movimientos migratorios, capitalismoResumen
En el mundo colonial, las formas de trabajo por contrato surgieron con fuerza, mezclándose en un área gris entre los polos de la esclavitud y el trabajo asalariado libre. Los sistemas coloniales de trabajo por contrato se parecían en muchos aspectos a la esclavitud que supuestamente reemplazaban y eran depositarios de ambigüedades responsables de hacer analíticamente cuestionable la dicotomía trabajo libre/trabajo no libre. Otro aspecto a destacar es la fuerte relación entre formas de trabajo forzoso y movimientos migratorios, lo que proporciona un trasfondo para comprender las migraciones de trabajadores chinos, indios, africanos, entre otros, en el régimen de trabajo por contrato. El propósito de este artículo es explorar la contradicción entre la existencia del contrato de compromiso de los trabajadores como instrumento de coacción y la idea liberal del contrato como un acuerdo libre entre dos partes, identificando los límites del liberalismo en el siglo XIX respecto al tema del trabajo colonial racializado y su legado para el próximo siglo.
Abstract
In the colonial world, forms of indentured labor emerged strongly, blending in a gray zone between the poles of slavery and free wage labor. In many ways, colonial indentured labor systems resembled the slavery they supposedly replaced and were depositaries of ambiguities responsible for making the dichotomy free work/non-free work analytically questionable. Another aspect to highlight is the strong relationship between forms of forced labor and migratory movements, which provides a background for understanding the migrations of Chinese, Indian, African workers, among others, under the regime of indentured labor. The purpose of this article is to explore the contradiction between the existence of the indentured labor as an instrument of coercion and the liberal idea of the contract as a free agreement between two parties, identifying the limits of liberalism in the 19th century regarding the question of racialized colonial labor and its legacy for the next century.
Resumo
No mundo colonial, formas de trabalho sob contrato emergiram com força, misturando-se em uma área cinzenta entre os polos da escravidão e do trabalho livre assalariado. Os sistemas coloniais de trabalho sob contrato em muitos aspectos se assemelhavam à escravidão que supostamente substituíam e eram depositários de ambiguidades responsáveis por tornar a dicotomia trabalho livre/trabalho não-livre analiticamente questionável. Outro aspecto a destacar é a forte relação entre formas de trabalho forçado e os movimentos migratórios, o que fornece pano de fundo para compreensão das migrações de trabalhadores chineses, indianos, africanos, dentre outros, no regime de trabalho sob contrato. A proposta deste artigo é explorar a contradição entre a existência do contrato de engajamento de trabalhadores como instrumento de coerção e a ideia liberal do contrato como um livre acordo entre duas partes, identificando os limites do liberalismo no século XIX quanto à questão do trabalho colonial racializado e seu legado para o século seguinte.
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